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A crise política que vive o Partido dos Trabalhadores não é fruto apenas da crise econômica ou da corrupção que tomou conta de parte de seus quadros {{parte pequena, é bom a ressalva para não confundir crítica e análise com depreciação e/ou panfleto fascista}}.

A crítica feita recentemente pelas Mães de Maio, em resposta ao Mano Brown, demonstra a insatisfação de boa parte dos brasileiros {{ainda que inconscientemente ou não verbalmente com as mesmas palavras}} com o Partido dos Trabalhadores.  A ver:

Foi a cúpula do Campo Majoritário do PT, com Lula à frente, que após cada nova eleição ou momento de perigo optaram por fechar com Michel Temer, Eduardo Cunha, Roberto Marinho, Henrique Meirelles, Antônio Delfim Netto, José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf, Gilberto Kassab, Bispo Edir Macedo e companhia, justamente aqueles que agora estão descartando Dilma, Lula e o PT, para aprofundarem ainda mais o seu projeto conservador à frente do Estado Brasileiro. Quantos Ministérios foi entregue pra Periferia comandar, nos Governos Lula e Dilma?! Comparem com o número de pastas entregues para notórios Incendiadores de Favelas, como o Sr. Kassab? Agora veja quem realmente foram os primeiros a “virar as costas” para Dilma… “Veja quem morre, agora veja você quem mata”…

A questão justa e sincera é igualmente insolúvel. Ora bolas, se é verdade que é à primeira vista é um erro estar com o PMDB de Cunha e Temer ou o PP de Maluf, também é igualmente verdade que os pequenos {{mínimos, mas históricos, como define o Mães de Maio}} avanços que houve, só foram possíveis graças a este tipo de aliança.

Como aprovar no congresso, sem os votos do congresso? Quantos votos a periferia possui no congresso? Eis o principal problema, a ausência de representatividade daqueles que, por óbvio, sempre estiveram excluídos {{e, portanto, não são devidamente representados}}.



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Esta não me parece uma questão para o Partido dos Trabalhadores resolver sozinho. Nem me parece ser questão que deveria desalinhar a esquerda, muito ao contrário, quanto maior o bloco de esquerda no congresso, menor a necessidade de alianças com estas figuras nefastas {{mas eleitas}}.  O que não invalida de modo algum a crítica dos movimentos sociais {{que, afinal, não é apenas Mães de Maio que fazem a crítica}}.

A crise de representatividade, esse termo bonito que as esquerdas gostam de jogar ao vento, como se a solução fosse transformar a política em algo ainda mais personalista, na exclusão de partidos e elevação de personagens, é algo real e crítico. A solução, no entanto, não é menos política, ao contrário. É mais.

O Partido dos Trabalhadores {{e das Trabalhadoras}} precisa se renovar, isso até as baratas que saem do partido e caminham em direção ao PMDB {{sim, chamei de barata, refere-se ao preço, não ao bicho}} sabem muito bem. A questão é que renovação não é mudar nomes, mas pensamentos e cultura.

A internet não trouxe apenas mais informação e combate à mídia hegemônica {{e olhando a conjuntura nem parece que houve assim, tanto combate, né? E nós, blogueiros, escrevedores e afins, já podemos parar de chorar a falta de regulamentação e fazer algo mais além do que escrever cada um no seu quadrado}}, trouxe uma lógica nova de mundo. Uma lógica menos hierárquica, mais igualitária. Isso devia ser boa notícia para o PT.

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A noção de nova política {{real, não estilo Marina Silva}} infelizmente não tem sido absorvida pelo partido.  A direção, em todas as instâncias, continua apostando num partido onde meia-dúzia decide e centenas de milhares obedecem, com a militância {{que é quem, ao fim e ao cabo, apanha nas ruas – verbal e fisicamente}} continua com pouca ou nenhuma voz, nos caminhos internos.

As direções das juventudes continuam sendo desencorajadas a tomarem atitudes sem a benção da direção partidária não-jovem. Até as cotas foram questionadas recentemente. O partido continua atrasado e sem entender a nova lógica organizativa dos movimentos de rua.

Lula foi chamado coercitivamente para depor no aeroporto de congonhas, em São Paulo. Enquanto parte da militância se organizava e ia espontaneamente para o aeroporto, a direção mandava aguardar o final da reunião para que passassem o direcionamento. Detalhe é que Lula foi levado por volta das 6h, a reunião estava marcada para as 10h.

Mas pior que a demora foi a decisão: uma plenária num ambiente fechado. Cheia de discursos e lideranças falando. À militância {{aquela que foi pressionar no aeroporto para que Lula não fosse levado à Curitiba}} restou o papel de gritar uníssono “não vai ter golpe”.

Uma semana depois, Lula tem um pedido de prisão {{patético, como se viu em memes e afins}} e o que faz as direções? Chamam para frente da APEOESP,  no centro de São Paulo, enquanto Lula permanecia num hotel próximo à Paulista, cerca de 6km distante dali. E o que fazem os que atenderam ao chamado ? São enviados de volta para casa.

Os secundaristas deram aula vencendo o governador espião, Geraldo Alckmin. E não fizeram isso reunindo 100 mil pessoas na Paulista, ou no Anhangabaú. Fizeram com atos pequenos, diários. Parando a máquina {{ao ocupar as escolas}} e obrigando as pessoas a verem que existia uma outra versão dos fatos.

O PT fez o quê? Ato no dia 31 de março. E outro em 18 de abril. O que aconteceu no meio disso? Jornais, televisão e rádio diariamente atacando o governo. A população só viu uma versão dos fatos.

É preciso entender que a militância precisa ter voz e autonomia. Obviamente que uma leitura maldosa da frase levará a entender que o que se propõe é a destituição das direções. Muito em contrário. Foram estas direções que nos levaram a tantos sucessos eleitorais. Mas não ao último. Em 2014 a militância venceu as eleições. Na unha e na rua.

Autonomia é ter voz. É ter espaço para discussões não viciadas. É uma direção jovem capaz de pensar sem a necessidade de consultar as instâncias superiores. E serem parabenizadas pelos acertos. E criticadas pelos erros. A militância precisa ser mais encorajada a sair por conta, e emponderada pelas direções {{todas}}.

Propor novas eleições, como possível solução para um golpe, não é apenas pensar numa lógica que já não existe. É escancarar que as ruas tornaram-se secundárias. Antes fossem secundaristas.

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