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Uma manifestação pacífica, com Black Blocs devidamente expulsos pela direção do ato, cheia de idosos e crianças, num domingo na avenida Paulista. Mais de cem mil pessoas caminharam da avenida Paulista até o Largo da Batata, num trajeto de aproximadamente 6 Km.

Um carro de som, lideranças de movimentos sociais, e no chão do asfalto manifestantes gritando “Fora Temer”, “Diretas Já” e variantes do mesmo tema.

A matéria poderia acabar aí, não fosse a vontade da Polícia Militar de por para funcionar seus tanques israelenses — afinal, custaram 5 milhões cada — ao final do ato, em Pinheiros.

O motivo — alegado, o real já se sabe há tempos — para tantas bombas e balas de borracha, não se sabe e não se explica. Talvez porque ele mesmo não exista. E a rima na prosa vai deixando o texto mais pobre, como talvez deixe o relato de que a todo instante as lideranças, do alto de seu caminhão, gritassem “sem violência” numa memória das mais infelizes — de tantas que há — daquele junho de 2013.



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“Se virem alguém praticando alguma violência, sentem. Os violentos ficarão expostos”.

Corte seco.

O repórter, na sanha de transmitir/filmar as bombas se vê só, no meio da praça, feito uma ilha, cercado de escudos e bombas por todos os lados. Pensa e concluí que o melhor a fazer é seguir fingindo que está num deserto, dançando entre fumaças, tiros e explosões — e gritos, que a esta altura se viam longínquos e baixos. Deveria o repórter ter sentado para mostrar que a violência vem só dos que usam farda?

Uma confusão ao lado esquerdo, um tanque (ou seria trator?) passa e deixa um bizarro rastro de espuma. Os 5 milhões vazavam pelo blindado feito uma banheira tosca num programa dominical que já não existe mais. A espuma, contudo, é bem real, como são os tiros.

O sujeito (que a essa altura escapava da ilha) chega na porta do trator de ideologias e o mundo se faz presente — já era tempo. Tanto que ao ligar a tela do celular se vê 4 integrantes da tropa de choque arrastando um manifestante para dentro do seu bunker. A ação é observada por um cinegrafista da PM e outros dois soldados — cabos, sargentos ou sabe-se deus que nome dar — impávidos, como o colosso do hino que pede ORDEM e, se sobrar tempo, progresso.

O sujeito é levado. Em poucas horas a internet faz seu serviço. Dezenas de fotos do manifestante que foi sequestrado desafiando o que não se desafia. Parando aquilo que não se deve parar. Pedindo, vejam só, que se parasse. O caminhão do choque, ao contrário do tempo, parou. E com os braços abertos, jato d’água batendo em seu peito ele foi arrastado.

A tropa exige que ele ‘suba por bem’. Como se subir por bem num caminhão cheio de gente que poucos segundos atrás estava mirando armas em sua cabeça e dando cacetadas em seu nariz, fosse uma opção a considerar. Como se fizesse alguma diferença subir ‘por bem’ ou ‘por mal’.

O veículo israelense segue seu caminho e aquela figura, que num só gesto uniu Jesus e um tanque Chinês — quem não se lembra da foto histórica? — mas que não conseguiu transformar o Largo da Batata em Praça Celestial, some com o tanque.

Mas tudo que começa tem fim e nossa versão brasileira de “Rebelde Desconhecido” tem nome, profissão e até apelido. Hélio Leandro Ramos, 37 anos é publicitário. Apelido: Jesus.

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