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Os dias que correm nos trazem uma infinidade de informações, possibilidades, novidades. São tempos em que a comunicação tornou-se instantânea, democrática, quase universal. Todavia, quanto mais possibilidades de conhecermos gente nova surgem, menos interessantes as pessoas se tornam para nós.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Aos 87 anos, seus livros já venderam mais de 200 mil cópias. “Amor liquido” é talvez o livro mais popular de Bauman no Brasil. É neste livro que o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do cotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da “modernidade líquida”. Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água. O capitalismo para Bauman também é parasitário, ele vem para “criar problemas”, não solucioná-los, se ele resolve acaba caindo em contradição de sua condição de existência.

Se o mundo está quase que inteiramente imerso no capitalismo selvagem de hoje em dia, me parece óbvio supor que o modo capitalista de pensar e organizar o mundo influencie e muito as nossas relações. O individualismo assumiu um papel de fundamental importância no desenvolvimento da cultura ocidental. O processo de individualização ganha forças com o Renascimento através do Humanismo, e o homem configura-se como lugar central de suas ações. Portanto, essa mudança afetou não somente o homem, mas a própria cultura.

Quem tem valores identificados com a esquerda hoje em dia tem sentido muito os reflexos dessa nova cultura humana.



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Uma pessoa de esquerda valoriza coisas que muita gente de direita não acha assim tão primordiais para iniciar qualquer tipo de relacionamento. Para alguém de esquerda, uma pessoa interessante tem de ter algum nível de humanismo em sua ideologia. Valoriza-se gente que pense mais do que somente em seu próprio umbigo. Querer que a nova pessoa em nossas vidas tenha mais entendimento da sociedade não é pedir demais, não é mesmo?

Mas como? Hoje em dia? Em tempos de ascensão conservadora no Brasil, quando ser reacionário está na moda?

A imensa busca por adquisição de bens materiais faz com que os valores humanos sejam perdidos ou deixados de lado, pois o que as pessoas possuem torna-se mais importante do que o que elas realmente são. Amizade, amor, solidariedade, companheirismo, tudo é visto como moeda de troca para que o que realmente interessa seja conseguido. Geralmente sexo, favores pessoais, etc. O imediatismo e o vazio de todos os sentidos tornam permissivas ações que desprezam os valores éticos nas relações.

O tempo em nossa sociedade passou a ser a matéria prima da vida: as pessoas passaram a dependentes do tempo. O tempo para as relações interpessoais, pro lazer, pro “nada” é escasso e não se encontra mais, é ele a grande ferramenta mercadológica de nossos tempos, regente das relações humanas.

Li estarrecido as repercussões de uma palestra no Fórum da Liberdade, encontro de liberais de direita em Porto Alegre, onde uma das palestrantes pregava livremente o egoismo, a falta de compaixão, a segregação e falta de escrúpulos como sendo algo natural do homem. Coisas contra as quais não se deva lutar.

Os tempos são líquidos e também cada vez mais cínicos.

Não encontramos mais gente interessante ou todos nós estamos cada vez mais chatos e não nos damos conta?

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