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Esse texto é uma reflexão masculina a respeito do papel masculino numa luta que não lhe diz respeito diretamente. Não é uma tentativa de protagonizar nenhuma luta alheia. Ao final da leitura, tente xingar com respeito.

 

8 de março. Dia Internacional da Mulher. Dia em que nós homens – bem ou mal{{u}} intencionados –  nos lembramos que há questões maiores que nossos umbigos. Mas qual nosso papel nessa luta? Está claro que a definição desse papel também não é de nenhum macho. Mas há questões menos óbvias.

{{Foto: ImprenÇa}}

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Ontem este editor foi à Marcha das Mulheres {{e o blog é tão macho que não sabe nem se o nome oficial da marcha é esse mesmo}}, que estava lotada… também por homens.



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É público e notório que houve uma briga e houve um racha na marcha. Este blog só cita este fato para que possa desenvolver as ideias, não para divulgar disputas ou palpitar sobre elas. E aí chegamos na questão.

É papel de um homem, ainda que bem intencionado, ressaltar críticas femininas às lutas feministas?

Para responder a questão e tentar entender o meu papel nessa luta, fui questionar as mulheres. E aí, o que diabos devo fazer?

Patrícia Rodrigues, da Secretaria Municipal de Mulheres de São Paulo, responde a questão sem meio-termo:

Em primeiro lugar, essa não é a prioridade. A gente sabe que o espaço eminente da organização da luta feminista é das mulheres. Feministas são as mulheres. É necessário que os homens criem cada vez mais solidariedade pró-luta feminista. O que parece é que existia um conservadorismo arraigado nas gerações anteriores, que não parece ter nenhum tipo de mudança.

Há pesquisas que indicam que 75% dos homens de 16 a 24 anos continuam machistas, dizendo o que a namorada tem que fazer, com qual roupa tem de sair… Portanto, a gente precisa sim que os homens estejam solidários e ativos na luta e apoio ao combate a isso. Mas precisamos continuar garantindo que à frente desses processos estejam as mulheres.

Patrícia tinha algumas críticas ao que rolou na marcha – críticas que não serão explicitadas nem citadas, senão para o entendimento da resposta à pergunta feita pelo blog – e chegamos na questão: Não cabe a um colunista ou jornalista homem ressaltar as críticas das minas às lutas das minas, é isso?

Não. Eu acho que não cabe. Inclusive nos espaços de auto-organização somos nós mulheres que nos entendemos por nós mesmas e temos a capacidade dentro do processo de fazer as próprias críticas.

E disso fica fácil lembrar toda a questão ao redor do termo feminazi num texto publicado por Luis Nassif tempos atrás {{não acredite em mim – Nassif}} e respondido aqui neste blog, por uma feminista. A feminista Fernanda Estima, uma das, senão principal alvo do termo feminazi, também esteve presente na marcha ontem. Questionada sobre o papel de um macho na luta das minas, a resposta não poderia ser mais direta:

Ao lado. Junto, mas ao lado. Sempre.

Sâmia Bomfim, militante do coletivo Juntas, ligado ao PSOL, responde a mesma questão:

Eu acho que eles têm que apoiar a luta das mulheres. Então, especialmente quando eles também são militantes de coletivos e organizações, têm que trabalhar para contribuir com que elas tenham espaço para colocar a opinião delas. Eles não podem interromper a opinião política delas ou então estigmatizar a luta por elas serem minas. Nas manifestações eles precisam participar, mas deixando o protagonismo para nós mulheres.

Está claro a este editor que não cabe a nós, homens, palpitar sobre o papel das minas e a forma ou estratégia que as minas devem usar na luta das minas. Mas para chegar nas questões menos óbvias, façamos uma pausa para contos e causos.

Certa feita, este editor, ao sair de casa, passou por uma obra. Uma jovem passou ao mesmo tempo e, como era de se esperar – mas não concordar – foi alvo de assédio por parte dos trabalhadores. Sem titubear e pensando estar colaborando solidariamente, este editor respondeu aos assédios do homem em questão. A resposta foi com “se tu não calar a boca e deixar a mina em paz a gente vai ter uma treta séria”.

A jovem em questão imediatamente mandou este editor calar a boca e disse que poderia se defender sozinha. O que é um fato, sem dúvidas. Mas em outras ocasiões, passando por situações semelhantes, outras jovens agradeceram ao editor.

{{Foto: ImprenÇa}}

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Fim da pausa. Início das dúvidas. Eu tiro a autonomia da mina quando tento ajudar numa questão de assédio verbal, destes tão comuns na rua? Note bem, não falo de uma mina tentando se livrar de uma agressão física ou de uma agressão sexual {{nas quais, por vezes a mulher não consegue se defender sozinha, devido à força física do agressor}}.

Andreza Gemelgo, 31 anos, Coordenadora Cultural de um CEU em São Paulo, pensa diferente da mina do causo:

Eu acho que o homem tem que ir nessa linha mesmo, tem que defender, se é o que ele acredita. E tem que educar suas filhas, seus filhos para isso. Acho que o papel do homem é esse também, de ir a luta junto com as mulheres.

Outras mulheres discordam. O que fazer? Escrevendo esse texto me parece que o óbvio é perguntar à mina em questão se ela quer ajuda.

Quanto ao papel masculino na luta das minas, o que ficou para mim, de tantas conversas que tive com tantas mulheres de luta, é que devemos nos ater ao nosso campo. Ou seja, desconstruir o machismo em nós mesmos e nos nossos amigos homens. Parece-me que é uma boa forma de não interferir no protagonismo alheio, nem ocupar um espaço que não é nosso, sem deixar de nos solidarizar.

Eu, de minha parte, concluo dessa forma. Na desconstrução diária do meu próprio machismo – sempre com a ajuda e lembrança das minas de luta que fazem questão de apontar nossos erros cotidianos {{ainda bem}} – e na desconstrução do machismo dos homens ao nosso redor. Já é bastante.

E quando as minas, mulheres, senhoras, idosas nos pedirem: Atender ao pedido. Estritamente naquilo que nos for apontado/pedido.

everton

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