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No Facebook conhecemos todo tipo de pessoa. Em meio a centenas de postagens de cunho fascistoide, chamou-me a atenção um vídeo de um policial civil gaúcho que defendia princípios de esquerda, a reeleição da presidenta Dilma e do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro.

A eleição passou mas a minha amizade virtual com Leonel Guterres Radde permaneceu. A admiração só fez crescer.

Ele é policial civil no Rio Grande do Sul e também faz parte de uma banda de rock, a Calibre. Nascido numa família que sempre esteve envolvida com cultura, é admirador do teatro e da música. Pratica artes marciais e vive recebendo elogios em seus vídeos de mulheres que admiram sua beleza.

É um personagem muito fora da curva, muito interessante. Um policial como poucos de nós conhecemos, que defende ideias que a maior parte dos policiais não defende (ou teme defender por medo de represálias). É contra a redução da maioridade penal, por exemplo.



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Num papo via chat, Leonel (que tem esse nome em clara homenagem a Leonel Brizola) falou animadamente sobre o Brasil, o Rio Grande do Sul e sua profissão. E timidamente sobre seu sucesso pop na web.

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Leonel, você ficou conhecido de muita gente na campanha eleitoral do ano passado, quando seus vídeos divulgados no Facebook atingiram grande alcance no campo da esquerda. Como surgiu a ideia de falar para uma câmera sobre política e cidadania?

Não sei se me tornei muito conhecido não. Sei que o vídeo teve uma grande abrangência, mas isso é muito efêmero. A ideia veio quando saíram as primeiras pesquisas de intenção de votos e se desenhava uma derrota acachapante (como foi) do governo Tarso. Sabendo do funcionamento dos governos do PMDB, e dos sempre aliados PP, DEM e PSDB, sabia do risco em que estávamos inseridos de perder relevantes avanços atingidos durante aquele governo, como a contratação de 1.400 Policiais Civis, 2.000 Brigadianos, helicóptero e delegacia móvel para a Polícia Civil, o moderno DCCI (onde funciona o controle das ocorrências de Porto Alegre e os telefones 190, 193 e 197), tabela de subsídios, promoções em dia, cursos de formação, reformas de delegacias, novos equipamentos. Conhecendo o prognóstico dos governos do PMDB e PSDB, sabia que tudo isso iria ser desmontado sob o argumento de falta de recursos e enxugamento da máquina e assim o foi.

Policial posa ao lado dos haitianos

Policial posa ao lado dos haitianos

Para ver o vídeo deste encontro clique AQUI. A matéria no site Band.com.br você vê AQUI.

Que tipo de consequências seus vídeos e seu posicionamento político lhe trouxeram?

Sempre falei como cidadão que, por acaso, também é policial. Nunca falei ou falo em nome da instituição. Não tenho autorização nem legitimidade para isso. Em relação às consequências do meu vídeo, e meu posicionamento político, foram me tornar alguém visado e alvo de algumas perseguições políticas das mais diversas formas. Mas isso nunca me abateu. Nunca tive apoio de qualquer político, nunca recebi qualquer incentivo para me expor. Sempre fiz de coração e com o peito aberto.

Você lutou pela reeleição do ex-governador Tarso Genro (PT) e foi derrotado. Agora faz oposição ao governo de José Ivo Sartori (PMDB). Onde você acha que a campanha do ex-governador falhou para não reelegê-lo?

Não acho que a campanha do Tarso tenha falhado. O clima na última eleição estava tomado pelo antipetismo. Qualquer candidato sem projeto e sem identificação partidária clara venceria aquela eleição. Todo o governo possui erros e acertos, mas acho que o governo Tarso mais acertou do que errou e ouso dizer que foi o melhor governo do estado dos últimos 50 anos. Mas a população do estado encontra-se envenenada pelo antipetismo, e tem suas razões para isso, e com certeza a RBS contribuiu para esse fato e blinda claramente o governo atual.

Que tal os primeiros oito meses de governo do novo ocupante do Palácio Piratini?

Esse período tem sido um dos piores da história recente do Rio Grande do Sul. Uma total anomia propositada para desestruturar os serviços públicos e colocar em prática as privatizações, os arrochos salariais e as práticas neoliberais, utilizando os servidores públicos como massa de manobra.

O governo do PMDB (o atual e os anteriores) é pior do que foi o governo do PSDB e da ex-governadora Yeda Crusius?

Esse governo é da mesma matriz de todos os governos do PMDB e PSDB, mas é disparado o mais despreparado e autoritário.

Você costuma abrir seus vídeos dizendo “Meu nome é Leonel, eu sou Policial Civil do Rio Grande do Sul”. Em mim isso bate como sendo uma declaração de profundo orgulho de seu cargo. Como é ser policial civil no Brasil hoje?

Tenho muito orgulho em ser policial civil e sempre abria meus vídeos declarando isso como um cidadão que se orgulha da sua instituição, porém, isso me gerou uma sindicância e uma punição, pois ao criticar o governo do estado compreenderam que teria transgredido nosso estatuto, que foi editado na Ditadura Militar. Agora, terei que me defender no Judiciário. Mas meu respeito à instituição, aos seus membros e o meu orgulho não diminuíram. Complementando, diria que é difícil pela falta de estrutura, pessoal e dificuldades salariais na maioria dos estados, além de questões da legislação que emperram o trabalho ou que acabam por induzir às polícias a um trabalho inócuo, gastando tempo, pessoal e recursos sem efeito algum, como à Guerra às Drogas, mas estamos melhores do que nunca, com profissionais mais capacitados que aprendem com a experiência dos veteranos.

Qual seria a polícia dos seus sonhos?

A polícia dos meus sonhos seria uma polícia de ciclo completo, desmilitarizada, de carreira única e com investimentos em tecnologia, equipamentos e salários, mais ligada às comunidades e com maior treinamento e recursos para prática contínua de tiro, técnicas não letais, preparação física, defesa pessoal e aspectos de legislação e sociologia.

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Você tem uma banda, canta, atua politicamente, é ator, pratica esportes, é pai, marido, filho… Onde arranja tempo e disposição pra tudo isso?

(risos)

Faço tudo com muito prazer e tenho orgulho do que eu faço. Tenho que me virar em dois, mas a gente dá um jeito.

O que as pessoas próximas de você dizem a respeito do teu engajamento?

As pessoas ao meu redor geralmente dizem que meu engajamento pode prejudicar e que incomoda muitas pessoas.

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Ter um mandato é algo que lhe interessa?

Me interessa que os agentes da segurança pública, sejam Policiais Civis, Brigadianos, Bombeiros, Agentes da SUSEPE, da FASE, peritos do IGP, Guardas Municipais tenham pelo menos um interlocutor que seja seu representante direto nos parlamentos. Alguém que tenha seu gabinete aberto e que represente os interesses dos agentes e da melhoria dessas instituições, que sofrem com mazelas muito similares. Não tenho recursos financeiros, nem votos, nem carisma para tal empreitada, mas com certeza apoiarei alguém comprometido com os ideais de valorização dessas instituições e da sociedade baseado em um conceito coletivista, democrático e de inserção e justiça social. A decisão de se lançar candidato deve ser um acordo de um determinado grupo e não de um indivíduo, não pode ser um indivíduo que se lança com intuitos ególatras e sim uma decisão coletiva que coloca seu representante direto naquele cargo. Entendo que os políticos são meros representantes de um todo maior e devem ser interlocutores abertos e diretos com todos, sem encastelamentos e com um mandato de cunho popular e não de cúpula. E digo mais: a situação atual do estado demonstrou que é urgente que tenhamos essa representação e isso deve começar pelas Câmaras de Vereadores já na próxima eleição até chegar à Assembleia Legislativa e Congresso.

Como você avalia o governo Dilma? Acredita que o pior da crise já passou?

Acredito que o pior da crise tenha passado, principalmente com as denúncias contra Eduardo Cunha e Aécio Neves, ambos heróis golpistas, mas com o golpismo e a intolerância reinantes, tudo é possível. Minha avaliação do governo Dilma é de que um Congresso conservador e corrupto como o atual, é muito difícil de governar, mas acho que a esquerda deve se inserir mais nas decisões atuais e isso o governo não tem feito.

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Qual o papel das redes sociais neste jogo político pesado que estamos assistindo hoje em dia? Você se considera hábil neste particular?

Considero as redes sociais elementares nessa disputa, mas também é um ambiente de muitas informações falaciosas, de muita mentira, de muita violência. É um tempo perigoso no geral. Não me considero hábil nesse embate, mas o faço porque sinto a necessidade de fazer. É de coração e não possui um objetivo específico ou técnicas pré-estabelecidas.

E a esquerda, Leonel? Quais os caminhos para se enfrentar esta escalada fascista? 

A esquerda deve se unir em torno do mínimo comum. Não deve dar armas para a direita continuar com o avanço fascista que estamos vendo. Na realidade, é uma lástima que no Brasil não existam liberais clássicos. Estes são uma ínfima minoria. A grande maioria da nossa direita é liberal somente no campo econômico, mas no campo social e político ainda não passou do mercantilismo. É arcaica, reacionária, ignorante, preconceituosa e conservadora, além de ser moralista e corrupta em grande parte.

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Na polícia há muitos que pensam como você? A polícia ainda é um reduto do pensamento de direita ou essa impressão é errônea?

Na polícia existem muitos colegas engajados de todas as matizes ideológicas. Acho que vivemos um momento interessante de consciência política. Não existe um pensamento majoritário, mas é claro que ainda serão  necessários mais alguns anos para transformar as instituições em ambientes realmente democráticos.

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