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Difícil pensar a cultura como essencial ao cidadão?!

RIO – Caixa de supermercado, Graciane Gomes, de 22 anos, moradora do Complexo do Alemão, estava habituada a ir ao cinema umas poucas vezes ao ano. Desde a inauguração do Cinecarioca Nova Brasília, ao qual chega a pé, no entanto, emenda até três sessões seguidas, cada uma a acessíveis R$ 4. A pipoca e o refrigerante juntos somam R$ 5.
Tasso Marcelo/AE
Tasso Marcelo/AE
Público. Taxa de ocupação da sala no Alemão é de 51%, quase o dobro da média do Estado do Rio
“Virou um programa de todo dia. A entrada custa o mesmo que o preço de ida e volta da Kombi até o shopping”, calculava Graciane no último dia 4, uma quarta-feira, ao lado de dois colegas de trabalho que levara para assistir a Thor, em 3D. Nos cinemas mais próximos, no NorteShopping e no Nova América, os preços seriam R$ 10 e R$ 18.
Fazer da ida ao cinema algo costumeiro para as classes C, D e E (com renda entre dois e dez salários mínimos) é o objetivo dessas iniciativas. Além do Alemão, que ganhou sua sala no Natal passado, na esteira da ocupação militar pós-guerra do tráfico, outros bairros do subúrbio vêm sendo contemplados: Bangu, Sulacap e, em abril, Irajá.
Os dois últimos contaram com incentivo do programa Cinema Perto de Você, da Agência Nacional de Cinema (Ancine), que completa um ano em junho, com média de abertura de uma sala por mês. O dinheiro vem em linhas de crédito abertas pelo BNDES (R$ 200 milhões) e o Fundo Setorial do Audiovisual (R$ 300 milhões) e se soma a investimentos privados.
Cinquenta projetos estão em análise no banco. Quanto mais pobre e menos escolarizado o público-alvo – e mais longe a sala mais próxima -, maior é a chance de aprovação. Até 2014, a Ancine quer incentivar a abertura de 600 novas salas – em bairros de classe baixa e cidades de até 100 mil habitantes sem cinema.
“Os empresários veem que vale a pena investir, mesmo que o retorno leve mais tempo, sete ou oito anos, por causa do ingresso barato”, diz o presidente da agência, Manoel Rangel. Se o preço é baixo, o povo corre ao cinema. A taxa de ocupação do Alemão é prova: em abril, 51%, quase o dobro da do Estado do Rio.
“Na sexta-feira, todas as entradas de domingo já estão vendidas”, conta o gerente, Wellington Cardoso, sobre o tapete vermelho mantido desde a inauguração. Ele garante que vem gente até de Copacabana e já há demanda por venda de ingresso pela internet. A venda de DVDs piratas nas banquinhas próximas diminuiu, a autoestima aumentou. Mc Donald”s e Casa do Pão de Queijo disputam pontos de venda. Há previsão de abertura de novas salas em outras favelas, como a Vila Cruzeiro.
Em Sulacap, o Cine 10, aberto em setembro, acabou com uma distância de mais de dez quilômetros do cinema mais próximo. É integrado a um Carrefour. Os custos são um pouco mais baixos por conta da parceria, mas, à exceção de possíveis diferenças na decoração, o investimento para a instalação desse cinema popular (projetor, tela, assentos, bonbonnière) é o mesmo do gasto nas áreas nobres.
“Levamos um cinema de zona sul a qualquer lugar. As salas são stadium, pode sentar um cara de 1,90 metro na sua frente, não tem problema. E a poltrona é de couro”, diz Marcos Barros, diretor da Cinesystem, que abriu o multiplex de Irajá, primei
ro do Rio 100% digital, e também tem salas em paragens mais favorecidas.
Legenda. As salas em áreas mais populares têm os mesmos campeões de bilheteria das de bairros nobres: em 2010, Tropa de Elite 2 foi sucesso absoluto. Neste ano, Rio e Thor estão na ponta. Mas há diferenças: no Cinesystem Bangu Shopping, por exemplo, o público só quer saber dos filmes dublados, os mesmos que nos cinemas da zona sul são defenestrados. A proporção é de três filmes dublados para um legendado.

{{não acredite em mim – Estado de SP}} 
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