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Para ser divulgada, toda pesquisa eleitoral precisa ser registrada na justiça eleitoral. Datafolha, Ibope, entre outras… As pesquisas eleitorais funcionam mesmo ou são mero mecanismo de manipulação ? A primeira coisa que é necessário que se saiba é que pesquisa eleitoral não é nostradamus. Ela é uma fotografia do momento eleitoral, ou seja, serve para que se vejam tendências e identificar o clima das eleições presidenciais, municipais, estaduais, etc. Existem basicamente dois tipos de pesquisa eleitoral:
  • Pesquisa Eleitoral Qualitativa
  • Pesquisa Eleitoral Quantitativa
As pesquisas qualitativas não medem números de intenções de votos ou chance de se eleger ou não um candidato. Elas servem mais para orientar as campanhas sobre o que se precisa dizer e o que não se deve dizer na campanha, para ganhar o máximo de votos possíveis. Já as pesquisas do IBOPE, do Datafolha e todas as que são divulgadas nas eleições são as pesquisas quantitativas. Elas servem para conhecer o eleitorado, identificar o clima da sociedade, medir as intenções de voto em um certo momento e avaliar governos, por exemplo. Outro fator importante medido pelas pesquisas eleitorais são os números de rejeição a um candidato.

Como são feitas as Pesquisas Eleitorais?

Pesquisa Eleitoral Qualitativa

As pesquisas têm métodos diferentes. Em geral as pesquisas qualitativas são feitas com um grupo específico que representam uma parte do eleitorado. Por exemplo: mulheres de classe média da região X. Em geral o pesquisador reúne um grupo de pessoas em uma sala, junto de uma pessoa que chamamos de facilitador, que é basicamente quem vai conduzir as conversas, para que se consiga pensar nos dados que se está pesquisando. O facilitador faz perguntas mais abertas e as pessoas vão conversando e respondendo, numa espécie de debate. A sala normalmente é espelhada {{sabe aquelas séries policiais do Netflix, quando alguém é interrogado ?}} e do outro lado do espelho ficam pesquisadores anotando os dados. Isso é importante porque a sensação de privacidade é o que permite que as pessoas sejam mais sinceras nos debates e, com isso, se chegue no resultado mais próximo possível daquilo que se procura saber.
Exemplo de sala espelho, utilizada para pesquisa eleitoral qualitativa
Exemplo de sala espelho, utilizada para pesquisa eleitoral qualitativa
Por exemplo, você precisa saber o que o candidato ou a candidata deve falar sobre um determinado tema polêmico, vamos usar o aborto neste exemplo inicial. Então as mulheres de classe média da região X vão conversar sobre o aborto e os pesquisadores vão anotando os dados. A ideia é que ao final disso se conclua se essa parte do eleitorado é favorável ou contrário ao aborto, que tipo de argumento se deve usar para ser favorável ou contra e como esses argumentos serão recebidos por essa parte do eleitorado.

Pesquisa Eleitoral Quantitativa

Já a pesquisa quantitativa precisa ser registrada no Tribunal Superior Eleitoral {{TSE}}. Esta obrigatoriedade se dá para que a justiça tenha controle sobre as regras, a isenção e o período no qual a pesquisa é feita. Como se sabe uma pesquisa eleitoral pode ser fundamental para que um candidato ou candidata vá ao 2º turno das eleições ou até para que ele ou ela se eleja. Você pode ver as regras do TSE para pesquisa eleitoral no site do TSE, mas o básico é:
  • Registro da pesquisa eleitoral deve ocorrer com antecedência mínima de cinco dias de sua divulgação;
  • Até o 7º dia seguinte ao registro da pesquisa, ele será complementado com os dados relativos aos municípios e bairros abrangidos;
  • Na divulgação dos resultados de pesquisas, atuais ou não, serão obrigatoriamente informados:
  • o período de realização da coleta de dados: a margem de erro; o nível de confiança; o número de entrevistas; o nome da entidade ou da empresa que a realizou e, se for o caso, de quem a contratou e o número de registro da pesquisa.
  • Questionários utilizados na pesquisa;
  • A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa no valor de R$ 53.205,00 a R$ 106.410,00.
Isso garante que qualquer pessoa possa checar os dados das pesquisas. Para isso basta acessar o sistema PesqEle e preencher os campos do sistema, conforme este exemplo aqui:
Pesquisas eleitorais no TSE

Ok, mas Pesquisa Eleitoral funciona mesmo? Como faço para entender uma pesquisa eleitoral?

Sim, de uma maneira geral elas funcionam sim. Mas é importante que se saiba ler uma pesquisa eleitoral, para não ter a sensação de que se foi enganado por elas. Em tese a função de ler uma pesquisa e te explicar é dos jornalistas, mas por confie em mim quando digo {{não acredite em mim}}. Jornalistas raramente procuram ler as pesquisas da forma como elas devem e costumam dar mais ênfase ao que o patrão deseja do que ao que o eleitor precisa saber. Então vem com o ImprenÇa e conheça você mesmo(a) uma pesquisa eleitoral.

Primeiro Ponto Fundamental: Pesquisa eleitoral é fotografia

Pesquisa eleitoral é uma fotografia do momento. Não adianta você pegar uma pesquisa sozinha, no começo de agosto e querer que o resultado das eleições, em outubro sejam os mesmos ou próximos. Isso não acontece. Imagine um serviço de previsão do tempo. Não adianta você procurar saber em agosto se vai dar praia em outubro. Você muito provavelmente vai se enganar. Mas então porque se faz pesquisa eleitoral em agosto? Porque o importante é acompanhar as tendências dos votos. Este é um dos fatores mais importantes numa pesquisa eleitoral. Você compara duas pesquisas e o candidato subiu nas duas, ele está numa tendência de alta {{tipo bolsa de valores e, se pensar bem, tem tudo a ver com dinheiro}}. Se ele estava subindo na primeira pesquisa e na segunda estabilizou, a tendência está mudando e assim por diante.
Formulário de pesquisa eleitoral
Questionário utilizado pelo Datafolha na pesquisa eleitoral de 08 de setembro de 2018

Preste atenção na Rejeição dos candidatos

Especialmente nas cidades grandes ou nas eleições presidenciais, o fator rejeição é fundamental para que se entenda as chances de vitória num eventual segundo turno. Vamos a um exemplo prático ? Isso mesmo, ele mesmo, Bolsonaro.
Rejeições na pesquisa eleitoral
Rejeição dos candidatos segundo a pesquisa Ibope divulgada em 11 de setembro de 2018
Note que a pesquisa não é apresentada sozinha, conforme vimos. Repare também que, com exceção do Bolsonaro, todos os candidatos relevantes {{nas primeiras colocações}} seguiram uma tendência lógica.  Rejeição que estava subindo ou seguiu subindo ou estabilizou e rejeição que estava caindo idem. Com Bolsonaro isso foi diferente. Por quê? Porque houve um fato extraordinário {{não é uma comemoração, é algo fora do ordinário, incomum, raro}} entre uma pesquisa e outra: ele sofreu um atentado. É extremamente raro que uma tendência mude bruscamente entre uma pesquisa e outra, seja na intenção de voto, seja na rejeição. Em geral isso só acontece quando um fato incomum ocorre. Pode ser uma declaração desastrosa ou uma denúncia, ou, como nesse caso, uma facada. No caso das eleições de 2018, na pesquisa de 11 de setembro, as simulações de 2º turno mostram que a rejeição faz a diferença:
Intenção de voto estimulada na pesquisa eleitoral
Intenção de voto estimulada na pesquisa eleitoral
Intenção de voto estimulada na pesquisa eleitoral
Um ponto importante é saber que quanto menos um candidato é conhecido, menor sua rejeição. Isso porque rejeição é a resposta para a pergunta: Em quem você não votaria de jeito nenhum? Portanto, se o eleitorado não conhece o candidato, não dirá que não votaria nele. A rejeição portanto, não deve ser lida como um dado só. Você deve sempre ter como referência o grau de conhecimento que o eleitor tem de determinado candidato. E como se mede isso?

Intenção de voto espontânea

Ela é a resposta para a pergunta: em quem você votará para presidente, por exemplo. Ao contrário da intenção de voto estimulada nesse caso o entrevistador não dá opções de candidaturas. Quem responde precisa lembrar ou saber quem é seu candidato. Neste caso você perceberá que o nível de “não sabe/não respondeu” será sempre maior que na pesquisa estimulada, quando o entrevistador dá todas as opções de votos para a pessoa escolher. Então no caso das eleições de 2018, especialmente na candidatura petista, esse número indica o quanto o eleitor sabe quem é o substituto de Lula, por exemplo. Lula estava disparando nas pesquisas, provavelmente estaria ganhando no 1º turno neste momento, no entanto Haddad só apareceu como vice, o que desperta pouca atenção do eleitorado. Neste caso a gente avalia o potencial da candidatura. Ou seja, se tinha muita gente votando no Lula e Haddad é seu substituto, logo ele tem um potencial de crescimento alto. Mas isso dependerá da campanha dele. Se saberão contar esse fato ao eleitorado, se passará a confiança de que vai fazer o mesmo que Lula, etc.

Conclusão: Pesquisa eleitoral funciona, se você souber ler a pesquisa

Basicamente a pesquisa quantitativa funciona sim, de um modo geral. Mas ela funciona na medida em que é lida da forma correta, ou seja, fazendo o acompanhamento histórico dela. É importante saber que as pesquisas quantitativas podem ser feitas também por telefone, o que implica numa margem de erro maior e menor grau de precisão. Isso porque as feitas pessoalmente levam em conta dados estatísticos do eleitorado, tentando simular o mais próximo possível o conjunto dos eleitores do país. Mas não adianta você ignorar o mundo e os fatos da conjuntura ao tentar ler uma pesquisa, nem utilizar como prova uma pesquisa de agosto, quando a eleição é em outubro. Se você entender como ela funciona, vai acabar compreendendo também o funcionamento das eleições. A margem de erro é o único dado que pode ser manipulado, para você que é adepto das teorias da conspiração. Ela será maior ou menor conforme o número de entrevistas conduzidas. E como o nome diz, é margem de erro. Em geral varia de 2 a 3 pontos percentuais ou de 5% para pesquisas feitas por telefone. Então se você desconfia que uma pesquisa é manipulada, saiba que matematicamente não é possível fazer isso além da margem de erro. Em geral, as teorias da conspiração se baseiam mais na ignorância de não se saber interpretar os dados do que na vida real.
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